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SÁVIO SOARES DE SOUSA
( BRASIL – RIO DE JANEIRO )
SÁVIO SOARES DE SOUSA Poeta, prosador, crítico de cinema, exerceu o jornalismo por mais de trinta anos, principalmente em “O Fluminense”. Nasceu em Niterói no bairro do Fonseca em 18 de setembro de 1924, filho de Oswaldo Soares de Sousa e Vespertina Reis Soares de Sousa.
Descende do Visconde do Uruguai. Estudos: alfabetizado em casa, com a tia Nelsina; depois: frequentou o Colégio Brasil, Colégio Universitário da Praia Vermelha, Liceu Nilo Peçanha, Faculdade de Direito de Niterói e Sociedade Dante Alighieri do Rio de Janeiro.
VIDA PROFISSIONAL: Bancário (Banco Mercantil de Niterói); Taquígrafo Parlamentar (Assembleia Legislativa do Estado/RJ (1947/1960); Advogado, Membro do Ministério Público-RJ (Promotor e Procurador de Justiça -1960/1991).
VIDA CULTURAL; Cofundador do Grêmio Literário Humberto de Campos (1944); do Clube de Poesia de Niterói (1956); do Clube Fluminense de Cinema (1956); da Associação Niteroiense de Cultura Latino-Americana / ANCLA e do Instituto Latino-Americano de Cultura/ILAC. Colaborador nos jornais: O Estado, Diário do Povo e Letras Fluminenses (de Luís Magalhães). Redator literário de O Fluminense, responsável pelo suplemento “Prosa & Verso” (1962/1972), juntamente, com Marcos Almir Madeira.
PARTICIPAÇÃO EM ACADEMIAS: Membro efetivo das Academias Fluminense, Niteroiense, Valenciana, Itaboraiense e Gonçalense de Letras. Membro da União Brasileira de Trovadores/UBT, atual presidente. Orador oficial do centenário do poeta Alberto de Oliveira, em Saquarema, RJ (1957). Fundador do Clube de Poesia de Itaboraí, RJ (1966). Cofundador e primeiro orador oficial do Grupo dos Amigos do Livro, atual Grupo Mônaco de Cultura (Livraria Ideal, Niterói/RJ). Colaborador da revista Bali, da Academia de Letras, com a seção “Nozes e Vozes” há doze anos. Foi crítico de cinema no Diário do Povo (1955).
Integrante do movimento “Escritores ao Ar Livro”, instituído pelo poeta e publicitário Paulo Roberto Cecchetti, e o idealizador do folheto “Resenha da Tenda”.
Livros publicados: “Mundo número dois”, “O salto e o paraquedas”, “Signo do sapo”, “O canibal arrependido e outros discursos” e “Rapsódia para sanfona”(trovas). Verbete da “Nova Enciclopédia Delta-Larousse” e da “Enciclopédia de Niterói”, de Luís Antônio Pimentel. Noé ou a máquina antediluviana.
REVISTA DA ACADEMIA NITEROIENSE DE LETRAS. Edição Especial 2003. Impressão: Folha Carioca Editora Ltda. 112 p.
Ex. bibl. de Antonio Miranda
Sonetos de Vária Idade:
O Visitante
Entra. De leve. Sem fazer barulho.
Não te detenhas aí, junto da porta.
Tua presença amiga me conforta.
Contigo, em poços mágicos mergulho.
Quando vens, nada é som: tudo é memória.
E a infância, que era sombra, ressuscita.
Voemos pela sala, onde ainda habita
o anverso do que eu sou — é a minha história.
Minha história sou eu, quando menino.
A rua Santo Antonio... A velha casa...
Os livros de meu pai... O abacateiro...
Não te apagues de mim, do meu destino.
Vem visitar-me, sempre que te apraza,
fantasma do Natal, meu companheiro.
Camoneano
O Amor urdiu tão caprichosamente
a teia com que havia de enredar-me,
que eu nem sei como possa libertar-me
de um inimigo assim, tão persistente.
Busco evitar-lhe o ardil... Por mais que o intente.
— e o coração trago em constante alarme.—
meios com que de pronto me desarme,
encontra-os o ladino facilmente.
Resisti quando quis ou quando pude.
Mas, a final derrota pressentindo,
porque a minha esperança não me ilude,
vou entregar-me ao inimigo Amor...
Quem me dirá, depois, meu caso ouvindo,
que eu não ganhei, não sendo o vencedor?
O homem e sua morte
Foi minha morte que nasceu comigo.
Trago-a em mim, circulando nas artérias,
latente em cada célula, no fundo
tranquilo de minha alma resignada.
Em verdade, nasceu com a minha sombra,
ou é, talvez, a própria sombra incôngrua,
com que diuturnamente me confundo,
ao meio-dia, sobre o chão da estrada.
Sou igual aos demais, de igual destino.
Pouco me importa o prazo destas férias,
nem me inquieta a imutável companhia,
que de mim nunca mais se apartará:
no instante em que, sem luz, se suma a sombra,
comigo a minha morte morrerá.
Delitos
Santo não sou, nem anjo — como o dizes.
Enganam-te os teus olhos sedutores.
Entre a fá e a descrença, amargo crises,
irmão-gêmeo de tantos pecadores.
Mas... não são capitais os meus deslizes.
Que eu, na estreita dos gênios sonhadores,
da Beleza — violando-lhe as matrizes —
furto fiapos de névoa, multicores.
Contraventor da rima, e não perverso,
esse é o mundo de crime em que ando imerso.
Nem me atraem os ócios de outro ofício.
Perco o Céu, mas garanto o Purgatório,
nesse compensador e nada inglório
contrabando de nuvens, que é meu vício.
Soneto cabalístico
Flor medieva na Idade da Razão,
por que com teu amor me desesperas,
se e o dilema de tuas Primaveras
me situa entre a cruz e o caldeirão?
Querer-te ou não querer-te — eis a questão.
Tens veneno em teu beijo, em que temperas
o feitiço das bruxas de outras eras
e a volúpia moderna do Verão.
Tens veneno e tens mel... Então, fraquejo.
Se me beijas, pressinto que o teu beijo
me liberta de anseios imortais.
Morro, e sei que essa é a morte que mereço,
pois no extremo suspiro te agradeço
pelo doce veneno que me dás.
Solene
Quando eu fechar os olhos para o mundo
e embicar minha nau para outro porto,
não proclamem de logo que estou morto.
Esperem pelo menos um segundo.
Não! — que um segundo é pouco. Tenham calma.
Talvez seja delíquio passageiro
e eu decida mudar o meu roteiro,
— abertos para o mar os solhos da alma.
Porém, se da partida houver certeza,
convoque-se o festim. E, incontinenti,
cantem todos o cântico inaudito.
Entre flores e vinho, farta a mesa,
estarei no salão, morto e contente.
Só se morre uma vez. O resto é mito.
A costureirinha de Friburgo
Da janela do bairro proletário,
vê-se o céu, vê-se o rio, vê-se a ponte.
E ela, dobrando a toalha do cenário,
mira a serra que azula no horizonte.
“O tédio passará — suspira, insonte, —
certa noite em que o amante imaginário
me sequestre em seus braços de templário
e vare a estrada, antes que o sol desponte...”
Fugir! Fugir!... A espera é que alucina.
Já se lhe enruga o rosto de menina
e o olhar azul lhe enturva um ar tristonho.
Mas sorri. No cochilo de um momento,
entre a linha da agulha e o pensamento,
a costureira cose o pano ao sonho.
*
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Página publicada em novembro de 2023
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